Ana Carolina Thomé e Rita Mendonça
Adultos que hoje se sentem distanciados da
natureza podem encontrar apoio e inspiração em suas próprias
memórias da infância, período em que podiam
brincar livres com ela, nela. Até a década de 1970, as crianças ficavam mais
ao ar livre, inventando brincadeiras, sem, necessariamente, a supervisão de adultos. Foi a partir dessa década que os
carros
começaram a ocupar as cidades, tornando a vida ao ar livre menos segura
e perigosa, principalmente para os pequenos. Assim, pouco a pouco elas
foram se recolhendo aos quintais e áreas externas dos prédios até que,
hoje, nem a esse espaço muitas crianças têm acesso.
Assim, pais e educadores que hoje estão na faixa dos 40-50 anos,
provavelmente têm muita história pra contar sobre suas brincadeiras de
infância. E os mais jovens devem ter também muita recordação boa de suas
brincadeiras nos quintais e nas áreas de recreação dos prédios.
Eu, Rita, por exemplo, lembro da forte
sensação de liberdade e alegria quando brincava livre nas
ruas de terra da
cidade de interior
onde morava, e adorava os dias de chuva em que podia brincar na
enxurrada imaginando cachoeiras, e voltava pra casa toda molhada e cheia
de lama.
Eu, Ana Carol, tenho a lembrança forte das gargalhadas ao descer
rolando um declive gramado. Também é intensa a lembrança do quintal da
minha avó, que era repleto de plantas, de diferentes tipos, cores e que
naquele momento me parecia uma floresta, e que era cenário de muitas
aventuras com meu primo.
Todas essas
memórias e
histórias
são parte do que somos hoje. Você já pensou em compartilhar essas
memórias? Sentar sem pressa, junto com outros adultos, de diferentes
idades, e conversar, contar essas histórias, compartilhar esses
sentimentos. É um processo importante para trazer à tona a importância
de brincar livre e com a natureza. Este tempo de estar junto para
revisitar memórias, contando causos, rindo, está cada vez mais raro.
Estar próximo, sentir a
presença do outro, nos conectarmos às pessoas pelo toque, pelo olhar, pelas emoções, torna tudo mais intenso.
Frequentemente buscamos pesquisas de universidades famosas,
estudiosos do assunto para justificar as necessidades básicas das
crianças. Essas pesquisas são muito importantes, claro, e temos muito
que incentivar cada vez mais esses assuntos na academia. No entanto,
muitas das respostas estão em nós mesmos, nos caminhos trilhados com o
pé no chão,
nas comidinhas de terra e folha, nos saltos sobre poças de lama. Por
que as crianças devem brincar livre e com a natureza? A resposta está em
nós mesmos.
Foto: Fabi Lopes
Ana
Carolina é pedagoga, especialista em psicomotricidade e educação
lúdica, e trabalha com primeira infância. Rita é bióloga e socióloga,
ministra cursos, vivências e palestras para aproximar crianças e adultos
da natureza. Quando se conheceram, em 2014, criaram o projeto “Ser
Criança é Natural” para desenvolver atividades com o público. Neste
blog, mostram como transformar a convivência com os pequenos em momentos
inesquecíveis.
FONTE: SITE CONEXÃO PLANETA