Adultos que hoje se sentem distanciados da natureza podem encontrar apoio e inspiração em suas próprias memórias da infância, período em que podiam brincar livres com ela, nela. Até a década de 1970, as crianças ficavam mais ao ar livre, inventando brincadeiras, sem, necessariamente, a supervisão de adultos. Foi a partir dessa década que os carros começaram a ocupar as cidades, tornando a vida ao ar livre menos segura e perigosa, principalmente para os pequenos. Assim, pouco a pouco elas foram se recolhendo aos quintais e áreas externas dos prédios até que, hoje, nem a esse espaço muitas crianças têm acesso.
Assim, pais e educadores que hoje estão na faixa dos 40-50 anos, provavelmente têm muita história pra contar sobre suas brincadeiras de infância. E os mais jovens devem ter também muita recordação boa de suas brincadeiras nos quintais e nas áreas de recreação dos prédios.
Eu, Rita, por exemplo, lembro da forte sensação de liberdade e alegria quando brincava livre nas ruas de terra da cidade de interior onde morava, e adorava os dias de chuva em que podia brincar na enxurrada imaginando cachoeiras, e voltava pra casa toda molhada e cheia de lama.
Eu, Ana Carol, tenho a lembrança forte das gargalhadas ao descer rolando um declive gramado. Também é intensa a lembrança do quintal da minha avó, que era repleto de plantas, de diferentes tipos, cores e que naquele momento me parecia uma floresta, e que era cenário de muitas aventuras com meu primo.
Todas essas memórias e histórias são parte do que somos hoje. Você já pensou em compartilhar essas memórias? Sentar sem pressa, junto com outros adultos, de diferentes idades, e conversar, contar essas histórias, compartilhar esses sentimentos. É um processo importante para trazer à tona a importância de brincar livre e com a natureza. Este tempo de estar junto para revisitar memórias, contando causos, rindo, está cada vez mais raro. Estar próximo, sentir a presença do outro, nos conectarmos às pessoas pelo toque, pelo olhar, pelas emoções, torna tudo mais intenso.
Frequentemente buscamos pesquisas de universidades famosas, estudiosos do assunto para justificar as necessidades básicas das crianças. Essas pesquisas são muito importantes, claro, e temos muito que incentivar cada vez mais esses assuntos na academia. No entanto, muitas das respostas estão em nós mesmos, nos caminhos trilhados com o pé no chão, nas comidinhas de terra e folha, nos saltos sobre poças de lama. Por que as crianças devem brincar livre e com a natureza? A resposta está em nós mesmos.
Foto: Fabi Lopes
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