Projeto da escola de Rolante faz com que seus alunos aprendam maneiras de contribuir com o meio ambiente.
Uma pequena iniciativa que tomou grandes proporções. É dessa maneira que pode ser traduzido o projeto A Arte de Reciclar e Transformar, promovido por integrantes da Escola de Ensino Fundamental Sagrada Família, localizada na encosta da Serra do Rio Grande do Sul no município de Rolante. A partir do programa, materiais descartados que antes eram considerados lixo pelos alunos passaram a ter um novo significado para eles. Agora servem de matéria-prima para confeccionar brinquedos, presentes e até mesmo obra de arte, ação que acaba beneficiando não só os estudantes, mas muitas pessoas da comunidade.
O programa começou a ser implantado com as turmas de níveis iniciais da escola há cerca de três anos. A educadora da terceira série Fabiana da Cunha levou um representante da Pastoral da Criança da cidade para ensinar os pequenos a produzirem brinquedos com garrafa PET. A atividade obteve sucesso, fazendo com que a educadora da 2ª série, Cristina Lembi, convocasse a turma de Fabiana para ensinar o exercício aos seus aprendizes. A troca de experiência entre os alunos resultou em diversos brinquedos como bilboquê, cavalo de pau, avião, pés de lata, carrinhos, vaivém, entre outros, destinados, posteriormente, a crianças carentes.
A conscientização em promover atitudes que contribuem para a sustentabilidade do meio ambiente passou aos poucos a atingir os demais estudantes do colégio. Atualmente, todas as séries participam de alguma forma do projeto. A expansão da iniciativa também ultrapassou os muros da escola. Foi firmada parceria com a Escola Estadual Frei Miguelinho, onde alunos da Sagrada Família se tornaram professores por um dia, ensinando as crianças da instituição pública a fabricarem brinquedos com materiais recicláveis.
Outra ação que envolve A Arte de Reciclar e Transformar ocorre na horta escolar, em que é aproveitado o lixo orgânico. No local, os pequenos aprenderam a fazer uma composteira, espaço onde é depositado resíduos orgânicos. É ali também que plantam verduras, pipocas e outros alimentos. Fazem parte do projeto ainda atividades fora da escola. As crianças visitaram, por exemplo, a Usina da Reciclagem, onde puderam conhecer a rotina de quem trabalha com o lixo. A partir do contato com os trabalhadores, tiveram conhecimento de desagradáveis experiências de seu cotidiano como a de encontrar animais mortos entre os resíduos e lixo hospitalar.
Valorizar a atuação dos catadores de lixo de Rolante é um dos objetivos do programa. Uma mostra dessa intenção foi a entrevista realizada pela 5ª série com o catador Osmar. Ele que não sabe ler nem escrever explicou aos pequenos de que forma extrai do lixo o seu sustento. Ações como essa proporcionaram uma maior conscientização dos participantes do programa no sentido de colaborar com o serviço de pessoas como Osmar.
A coordenadora da iniciativa, Arlete da Rosa, aponta ainda outras mudanças de comportamento dos participantes após o programa alterar o cotidiano da escola. "Os alunos passaram a produzir menos lixo no interior do colégio e estão mais solidários uns com os outros", comemora ela. Os responsáveis dos menores também são testemunha dos diferentes hábitos obtidos pelas crianças. "Pais vêm nos contar que os filhos passaram a se alimentar de forma mais saudável e que cobram deles a separação do lixo em suas casas", relata Arlete.
A cobrança dos estudantes não foi exercida somente aos seus responsáveis. No ano passado, eles marcaram uma entrevista com o prefeito da cidade e enviaram a ele uma carta com reivindicações para que o município atue de maneira responsável em relação a questões ambientais. Coincidência ou não, após o manifesto dos pequenos, a prefeitura anunciou que iria iniciar a coleta de lixo seletivo em 2012. "Acreditamos que temos uma parcela de contribuição nessa conquista", orgulha-se a coordenadora do programa.
Projeto é reconhecido por meio de prêmios
Mesmo com pouco tempo de existência, A Arte de Reciclar e Transformar já foi agraciada por duas vezes. Recebeu em 2011 o 12 lugar na categoria preservação ambiental do 62 Prêmio de Responsabilidade Social do Sinepe/RS (Sindicato do Ensino Privado do Estado) e também o Selo de Escola Solidária do Instituto Faça Parte. "É gratificante ver um trabalho que iniciou tão pequeno com poucos recursos financeiros, mas muito capital humano, ser reconhecido por essas instituições" diz Arlete da Rosa. o A ambição dos coordenadores do programa é que suas ações atinjam uma camada cada vez maior da comunidade de Rolante.
"Esperamos que mais escolas e pessoas participem dessa experiência", defende a professora Cristina Lembi, uma das precursoras da iniciativa. Já a irmã Dolores Kassick, que, além de professora do Sagrada Família, é agente da Pastoral da Criança da cidade, destaca os resultados já obtidos que favoreceram o município. "Tornamos visível socialmente a atuação dos catadores e separadores e colocamos em debate a importância da sustentabilidade", aponta ela.
Jornal do Comércio (Porto Alegre/RS) – JC Empresas & Negócios – 09/01/2012 – Pág. 16