sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Mais da metade da população não tem rede de tratamento de esgoto

Estudo promovido pelo instituto Trata Brasil, parceiro da Pastoral da Criança nas questões de saneamento básico, mostrou que mais da metade da população brasileira ainda não tem acesso a rede de tratamento de esgoto.  Os resultados foram divulgados nesta terça-feira (01/10/13) e apontam as regiões norte e nordeste como mais deficitárias.


A Pastoral da Criança, através de suas ações voltadas para as políticas públicas, busca que todas as famílias possam ter saneamento básico em suas casa, afim de garantir melhoria de saúde para todos, principalmente as crianças. Reportagem do Jornal Nacional mostra a situação precária que muitas famílias vivem e a ação de entidades, como a Pastoral da Criança, para que esse problema seja resolvido. Veja abaixo a  notícia completa.


Mais da metade da população não tem rede de tratamento de esgoto

Mais da metade da população brasileira não tem rede de tratamento de esgoto em casa. Este é só um dos dados de um estudo divulgado, nesta terça-feira (1), sobre a situação do saneamento básico, nas 100 maiores cidades do país. É o tema da primeira reportagem da série de Tiago Eltz e Thiago Capelle.

A vida em meio ao esgoto.

“Aqui desce todos os resíduos. É insuportável o cheiro, dá muita mosca, muitos insetos”, diz uma moradora.

Ananindeua é a segunda maior cidade do Pará, com quase meio milhão de habitantes. Em saneamento básico, é a pior entre as 100 maiores do país.
O ranking do Trata Brasil leva em conta itens como distribuição de água, coleta e tratamento de esgoto, e é baseado nos últimos dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento. Em todos os quesitos os índices de Ananindeua são uma calamidade.

Quase metade da população não tem água encanada. Rede esgoto praticamente não existe, e os 4% coletados vão assim mesmo pros rios e igarapés. O município não trata nem um único litro de esgoto. Um conjunto habitacional foi planejado, construído pelo poder público. Então foi feito uma rede coletora de esgoto que passa embaixo do asfalto. Não tem esgoto a céu aberto.

E o planejamento parece não existir. Todo o esgoto coletado no conjunto habitacional, acaba jogado assim a céu aberto. O descaso deixa cicatrizes. Ananindeua é o extremo, mas não um caso isolado. Apenas metade dos brasileiros tem coleta. E só 38% do esgoto são tratados.

Os melhores exemplos estão concentrados em São Paulo, Paraná e Minas. A melhor cidade entre as 100 maiores é Uberlândia, que tem praticamente todos os moradores com acesso a água tratada e coleta de esgoto.

Quando o saneamento falta, o reflexo é imediato na saúde, principalmente das crianças.

“De cem crianças que a gente cuida, então uma medida de 60 a 70% que tem esse problema de diarreia”, afirma o coordenador da Pastoral da Criança em Ananindeua, Jorge Lima.

“Cada real que nós deixamos de investir em saneamento básico leva a um prejuízo 10 vezes maior em custos de saúde pública e de tratamento de doenças”,  relata o médico infectologista do Hospital das Clínicas de SP, Antony Wong.
Veja a tabela do  Ranking do Saneamento - As 100 maiores cidades do Brasil (SNIS 2011)

A região Sudeste tem os melhores índices. Os maiores problemas estão no Norte e Nordeste. Mas a precariedade não tem limites geográficos. O Centro-Oeste está na média nacional. Menos da metade da população tem coleta. No Sul, os números são piores. Apenas 36% dos moradores são atendidos com rede coletora. Santa Catarina tem a situação mais grave da região.

Estamos no Vale Europeu. A turística e urbanizada Blumenau, até 2011, tinha 95% da população sem rede de esgoto. “Normalmente a gente pensa na luz, na água, telefone, internet, mas saneamento é uma coisa que a gente não vê, não se vê então não preocupa só quando tem o cheiro tu pensa, puxa vida tem alguma coisa errada”, conta a moradora Claudete Maffezzolli.

E já faz algum tempo que o cheiro bateu a porta dos moradores. O sistema de fossas usado na cidade não da mais conta de uma população que passou dos 300 mil habitantes. E o esgoto vai para rede de água da chuva ou direto para os rios. “Isso aqui é esgoto porque você pode ver que aqui na beira todas as casas desce esgoto. Não tem saneamento, um lugar próprio né, que vai”, disse o morador Guimovan Pimentel.

Blumenau é uma cidade muito suscetível a alagamentos e enchentes. A chuva inclusive já deixou marcas profundas na história recente da cidade. E é justamente nesses momentos que os 40 milhões de litros de esgoto despejados nos afluentes e no rio Itajaí-Açu voltam para perto da população.

Sem saneamento, a história se repete. Blumenau tem quase três vezes mais internações por diarreia do que as cidades mais bem colocadas no ranking. Agora o serviço de esgoto foi privatizado. A empresa responsável afirma que até o final desse mês entrega 30% da rede de coleta e tratamento. Em Ananindeua as melhorias chegam mais devagar.
“A nossa meta é subir 16% no índice dos”, promete o secretário de Saneamento e Infraestrutura de Ananindeua, Ismar Nascimento.  Soluções ainda pequenas para o tamanho do desafio brasileiro.
“No ritmo de hoje nós não resolveremos o problema antes de 2050, portanto nossos netos continuarão discutindo saneamento básico. Não cabe mais no Brasil de hoje, ter uma infraestrutura básica tão atrasada”, critica o presidente executivo do Instituto Trata Brasil, Édison Carlos.

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