Uma em cada três crianças brasileiras entre 5 e 9 anos tem a doença
Base do tratamento deve ser a reeducação alimentar
Foto:
Daniel Marenco / Agencia RBS
A obesidade infantil pode ser considerada uma epidemia no Brasil. A
avaliação, feita no dia da Conscientização contra a Obesidade Mórbida, é
do psiquiatra assistente do Instituto de Psiquiatria do Hospital das
Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP),
Marco Antônio Abub Torquato Júnior. Pelos dados do Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE), uma em cada três crianças entre 5 e 9
anos tem obesidade no país.
Para o pediatra, hematologista e oncologista pediátrico do Hospital
Sírio-Libanês em São Paulo e do Instituto da Criança do Hospital das
Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, Paulo Taufi Maluf Junior, a
criança é considerada obesa quando tem índice de massa corporal acima de
30. Ele informou que não adianta visar somente à criança, mas fazer uma
reeducação do ponto de vista alimentar na família inteira.
— Tem que modificar os hábitos de vida de toda a família. Então a
primeira atitude a fazer diante de uma criança com obesidade mórbida é
promover uma grande reestruturação da vida familiar. Em alguns casos se
usa medicamentos para controlar o apetite, mas na realidade a base do
tratamento é a reeducação alimentar — explicou.
Segundo o médico, a obesidade muito acentuada, chamada de mórbida,
prejudica a capacidade respiratória da criança e pode desenvolver
algumas consequências metabólicas como aumento de colesterol e
surgimento de diabetes tipo 2. Ele explicou que não há estudos
suficientes que indiquem segurança na utilização de cirurgias
bariátricas em crianças com este tipo de doença.
— Em crianças a gente não tem nenhuma evidência de que o método seja
seguro e que seja eficaz. A gente não tem meios para poder avaliar e
instituir este tipo de tratamento — completou
Segundo Abub Torquato Júnior, a doença é complexa e tem vários fatores que podem influenciar no seu desenvolvimento.
— A medicina ainda está entendendo como esses fatores se somam para
causar a obesidade. Porém a gente sabe que a obesidade pode ser
influenciada, sim, por muitos fatores psicossociais — disse.
O psiquiatra informou que alguns comportamentos podem apontar uma dificuldade da criança enfrentar a obesidade.
— Em geral, as crianças mais jovens expressam menos o sofrimento
psíquico. Elas não falam que estão sofrendo, que estão tristes.
Normalmente expressam por meio do comportamento. Perder o interesse por
coisas que gostavam antes. Muitos medos que ela não tinha mais começam a
voltar — ressaltou.
De acordo com o médico, “crianças com muita ansiedade ou que não
querem ir para a escola podem estar sinalizando para os pais que algo
não está legal”. Além disso, segundo ele, sinais como alterações de
sono, dores no corpo, de cabeça e de barriga, quando persistentes,
também são um indicativo de que a criança pode estar passando por um
sofrimento psíquico.
Para o psiquiatra, problemas psicológicos nas crianças podem estar
associados tanto às causas da obesidade infantil, como ser uma
consequência da doença.
— As crianças obesas sofrem em relação à adaptação social e na
escola, e isso pode levar a uma série de sintomas psíquicos e
psiquiátricos — completou.
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