Há 19 anos, a Irmã Vera Lúcia Altoé ingressou na Pastoral da Criança.
Ligado à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), a Pastoral é
uma das organizações de maior importância na realização de trabalhos
voltados para a promoção do desenvolvimento integral das crianças. À
frente da instituição desde 2008, Irmã Vera tem percorrido todo o país
para conhecer e promover todas as pastorais espalhadas nas paróquias.
Pertencente
a Congregação das Irmãs da Imaculada Conceição de Castres e natural de
Cachoeiro de Itapemirim (ES), Irmã Vera afirma que o maior desafio em
seu mandato é “animar os líderes para permanecer no trabalho e convidar
outras pessoas para a pastoral”. Irmã Vera começou o trabalho na
Pastoral quando foi morar numa favela situada no Jardim Vitória, em
Cuiabá (MT).
Hoje,
a religiosa participa de um encontro com líderes da Pastoral da Criança
em Caicó. Ontem, a reunião foi em Mossoró. A visita ao Estado começou
sexta-feira passada, em Natal, onde conversou com nossa reportagem.
Confira a entrevista:
Qual sua missão na coordenação da Pastoral?
Como
coordenadora nacional, tenho como missão estar presente em todos os
Estados e nas mais de 300 diocese. Viajo quase toda semana Brasil afora.
Minha maior missão é manter animada a liderança da Pastoral da Criança.
E nessas viagens, o que a senhora está encontrando?
Encontro
muitas pessoas animadas, comprometidas realmente com a causa da
Pastoral da Criança e encontro também muitos desafios como crianças que
ainda estão morrendo por causas preveníveis. Um desafio muito grande é
que em todo posto de saúde tivesse a primeira dose de antibióticos. Às
vezes nossas crianças têm febre ou outra coisa, a mãe vai ao posto e não
tem o remédio. De repente a gente perde uma vida por nada. Outro grande
desafio é a falta de liderança para a Pastoral.
Como está o cenário no RN?
Por
exemplo, aqui no Rio Grande do Norte, foi constatado pelo Censo 2010,
que existem mais de 200 mil crianças pobres. Talvez não encontremos
essas crianças jogadas por aí, mas o censo apontou para esse número.
Hoje, aqui no Estado, estamos atendendo apenas 20 mil crianças. Ou seja,
são 180 mil crianças sem receber realmente essa pastoral em suas vidas,
em suas casas. Isso é um grande desafio porque temos o olhar para cá e
sabemos que não temos pessoas capacitadas e apaixonadas pela causa.
E como despertar a paixão nas pessoas por esta causa?
Na
realidade, em todas as paróquias já existe a Pastoral da Criança. Os
padres sabem disso. As pessoas que realmente se identificam com a causa
deveriam estar buscando essas paróquias. O que estamos lançando como
ideia é de que cada líder trouxesse pelo menos mais um líder. É missão
do líder fazer com que mais uma pessoa se apaixone, se encante pelo
trabalho. Esse é um compromisso não só aqui no Rio Grande do Norte, mas
em todo Brasil estamos implantando essa ideia. Para encontrar cinco ou
seis pessoas, é difícil, mas uma é mais fácil. E isso têm dado certo. E a
gente tem pensado bastante numa proposta de um padre lá de Sergipe que
diz que para a gente convidar as pessoas, não podemos convidar uma vez
somente. Tem que convidar a mesma pessoa pelo menos três vezes. Na
primeira vez a pessoa diz que não pode, não quer. Na segunda, ela já diz
que vai pensar. Na terceira, ela já se trabalhou e viu que vale a pena e
entra.
Como
a senhora avalia os programas sociais do Governo Federal, como o Bolsa
Família, o Brasil Carinhoso? Eles não estão atingindo o objetivo?
Na
realidade, o que a gente tem que levar em consideração é que não
podemos ter os olhos fechados. Esses programas têm dado uma ajuda, mas
ainda são paliativos. Conviver com esse pouco dinheiro que vem é
insuficiente para algumas realidades. É preciso ter outro meio para que
as pessoas não vivam apenas dessa doação da presidência. É preciso ter
um meio de sobrevivência. Isso nos preocupa muito.
Em
Brasília, temos a chamada “bancada evangélica” que parece ser bem
atuante. Não é tão perceptível assim a atuação de parlamentares que se
identificam com a Igreja Católica...
Não existe a “bancada católica”, né? Por isso não aparece nada...
A senhora percebe isso? Falta apoio político para o trabalho da Pastoral, por exemplo?
Penso
que há muitos políticos católicos que ajudam, mas falta a expressão
realmente. Ainda é pouco. Penso que os políticos ajudam, colaboram, mas
não é tão expressivo. Acho que, nós católicos, somos um pouco covardes
quando falamos de nossa igreja. Já nossos irmãos evangélicos têm mais
abertura. Nós, católicos, somos muito retraídos. Não sei se é porque
somos maioria e, às vezes, achamos que o mundo é todo nosso.
E como está a presença da Pastoral da Criança no Brasil?
Hoje,
atendemos mais de um milhão de crianças por mês. Temos mais de 200 mil
voluntários espalhado no Brasil todo e mais 20 países. A pastoral está
em quase quatro mil municípios e em todas as dioceses, quase todas as
paróquias. Estamos lutando para poder implantar a pastoral justamente
porque falta liderança. Esse é o desafio. Se tivéssemos mais pessoas
encantadas com a causa, quem sabe não teríamos mais crianças sendo
atendidas.
É
impossível falar em Pastoral da Criança sem lembrar da figura da Dra.
Zilda Arns. A senhora que trabalhou diretamente com ela, qual a
lembrança que a senhora tem dela?
O
que ela deixou foi a mensagem que a Pastoral da Criança foi criada para
atender as classes mais humildes e excluídas da sociedade. Ela tinha um
amor muito grande pelas crianças, gestantes e sobretudo pelos pobres.
Era uma mulher apaixonada e não media esforços. Aonde tinha que falar
sobre a pastoral, seja com senador, deputado, bispo, ela estaria. Foi
uma mulher muito ousada, querida e apaixonada pela causa.
Tribuna do Norte (Natal/RN) – Natal – 02/12/2012 – Pág. 5 - colaboração Roberto Luce
|
Nenhum comentário:
Postar um comentário